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Entrevista | Rodrigo Moratelli analisa pandemia e observa importância da Defesa Civil na tomada de medidas

Divulgação/LÊ

Um dos responsáveis pela criação do modelo da Defesa Civil de Santa Catarina, que já enfrentou inúmeras catástrofes naturais, sendo reconhecida internacionalmente, Rodrigo Moratelli exerceu por anos o cargo de secretário de Estado e tomou medidas que solucionaram casos, programando o futuro catarinense na construção diária de prevenção.

Neste momento de pânico e preocupação em torno da pandemia que assola o mundo em 2020, Moratelli é um crítico da maneira como as autoridades vêm combatendo o coronavírus no Brasil, com ações separadas e cheia de controvérsias.

Em entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini, ele disse que o Governo Federal deveria ter liderado uma série de atividades, em forma de fases, para conter o vírus estrategicamente. Ainda, o ex-presidente do Conselho Nacional de Gestores de Defesa Civil do Brasil defendeu a nomeação de um coordenador-geral federal no Centro Nacional de Desastres na gestão desta crise no Brasil: Confira:


Marcos Schettini: Qual a realidade de Santa Catarina e do Brasil na questão do coronavírus?

Rodrigo Moratelli: Santa Catarina é o Estado mais preparado para atuar em situações críticas do Brasil, as ações tomadas pelo Governo Estadual, seguem a determinação da OMS, porém foram tardias e não obedeceram ao protocolo estadual, teríamos três fases anteriores não aplicadas:

Fase 1: fechamento das fronteiras com barreiras sanitárias (aqui é fundamental o uso das Forças Armadas) mantendo os corredores de transporte, e bloqueando o trânsito sem finalidade. Monitorando a origem e o destino, e a saúde do condutor e passageiros;

Fase 2: todos os agentes de saúde, auxiliado pelos agentes e endemias e os agentes de assistência social (grupo mais numeroso), passando casa a casa definindo o padrão de isolamento familiar, pontual, sem comprometendo das atividades laborativas (exceto com sintomas, no trabalhador, ou no círculo familiar direto);

Fase 3: identificação de células de contágio, que dependendo do nível impõe a quarentena/isolamento social obrigatório, nessa região.

Fomos direto para a Fase 4, quarentena e isolamento social.

Alguns Estados criaram seus próprios procedimentos, sem alinhamento, outros nada fizeram, acredito porque estavam de férias no Carnaval, ou melhor, seguem a máxima que o Brasil só começa a trabalhar depois do Carnaval!

E o Governo Federal deixou a crise a cargo do Ministério da Saúde, só montando o gabinete de crise na semana passada, última sexta feira (20).

Schettini: Esta divisão, governadores falam uma realidade presidente outra, piora em que?

Moratelli: Primeiro essa é uma crise mundial e deve ser tratada numa linha vertical:

1º: OMS e organizações mundiais

2º: Governos Federais (países)

3º: Governos Estaduais ou regionais

4º: Municípios

5º: Sociedade civil organizada

6º: População

Isso não foi seguido, causando desinformação e decisões desencontradas ou controversas. O Governo Federal tem que chamar a responsabilidade para si. A questão de saúde é ligada ao Ministério da Saúde. A questão de fronteiras e circulação ligadas aos Ministérios da Defesa, Justiça e Segurança Pública, Desenvolvimento Regional e Infraestrutura. As questões econômicas divididas em duas áreas a que cuida das contas públicas e o direcionamento das receitas e caixa para essa megaoperação e, principalmente, a Economia (Ministérios da Economia, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Turismo e o empresariado organizado) que ao fragilizar-se vai gerar outro efeito pandêmico pior que o coronavírus, a falta de dinheiro, falta de empregos e perda significativa de renda. As demais estruturas organizadas nas suas áreas afins. Toda essa gestão tem que ser feita a partir do Centro Nacional de Desastres (Cenad), com a indicação de coordenador-geral Federal, para mim o secretário Nacional de Defesa Civil, ligados ao CICCs Estaduais (Centro Integrado de Comando e Controle) ou CIGERD/SC (Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres). O nosso centro (CIGERD) está cumprindo o seu papel e é o centro de controle da crise no Estado.


Schettini: O Brasil está dividido em interesse político e de Saúde. Quem perde ou ganha?

Moratelli: O interesse político aflora muito em momentos de crise, uns falando demasiadamente para aparecer, outros no silêncio público, porém focados em desestabilizar a situação, e os que não “fedem nem cheiram”, vão a favor dos comentários da rede social. A manutenção da saúde pública é o principal objetivo nesse momento, e não vamos criticar o Brasil, temos o quarto maior número de leitos de UTIs por 100 mil habitantes, 20,3 leitos, podendo chegar a 24,5 com as medidas que estão sendo tomadas. Perdemos só para os EUA, Alemanha e Taiwan. A Itália tem 12,5, Espanha tem 9,7, Reino Unido tem 6,6 e a China tem 3,9, por isso a necessidade de construir um hospital em tão pouco tempo. Além de operarmos o maior sistema de saúde pública do mundo, o tão criticado SUS, que é eficiente. Dito isso, respondo: quem ganha são os oportunistas e quem perde é a população em todos os sentidos e direções.

Schettini: A Defesa Civil tem qual papel nesta pandemia?

Moratelli: Deve ser a coordenadora da crise. Cadê o secretário Nacional de Defesa Civil? Cadê o chefe da Defesa Civil do Estado? Meros coadjuvantes! Não é hora de vaidades. Não podemos nos esconder atrás de fenômenos naturais. Sei disso e posso afirmar com toda a certeza, pois estudei muito para ajustar o Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil de Santa Catarina. A população não confia em figuras públicas de gravata ou camisa passando informações. Observe o ministro Mandetta, usa o colete do SUS e, somado a sua desenvoltura, é compreendido pelo cidadão.


Schettini: Qual é o quadro: medo e realidade?

Moratelli: A realidade é que estamos vivendo e o colapso se aproxima se não retornarmos a vida cotidiana até a Páscoa, observando algumas restrições ou condições:

  • cidades sem casos (nível verde), mantém as barreiras sanitárias e identificação, e retorna a vida cotidiana;
  • cidades com poucos casos, sem transmissões comunitárias (nível amarelo), isolam os contaminados (hotel, hospital, ou algum local específico) e segue o procedimento anterior;
  • cidades com muitos casos, com transmissões comunitárias, sem informação da origem (nível vermelho), seguem em ciclos de quarentena de sete dias, para a acompanhar a evolução e aplicam os itens anteriores.

Outra medida, dividir a operação em dois grupos, o da saúde que trata a doença e o multidisciplinar (todas as secretarias e terceiro setor organizado) que irá tratar do retorno a vida cotidiana. Esse é um protocolo de nível municipal apoiado pelo Estado.


Schettini: O presidente foi para a TV e falou para todos ignorarem a quarentena. Por quê?

Moratelli: Não posso responder pelo presidente, ele não é gestor, tem uma excelente equipe, mas como falei acima, falta o coordenador-geral Federal e uniformidade nas decisões e procedimentos a serem adotados em todo o Brasil.


Schettini: O que pode ou não relaxar em tudo isso?

Moratelli: Precisamos implementar as ações para o retorno a vida cotidiana, observando as informações regionais (número de casos registrados e a sua origem), determinando as ações que devem ser tomadas e liberando o dia a dia (ir e vir das pessoas e o retorno das atividades).


Schettini: A represa do coronavírus vai estourar quando?

Moratelli: Não é a questão de estourar, a doença já é presente em todo o mundo, porém existe um cálculo a ser feito. Tenho observado tudo o que ocorre nos países, estamos vivendo uma crise capaz de reduzir a população mundial em 20% em 18 meses, considerando o número de pessoas contaminadas informado. Aí vem o primeiro erro, o número de contaminados é 100 vezes maior, porém assintomáticos, trazendo o percentual para 0,2%. Isso modifica toda a operação, motivo que leva a operações extremas, as quais poderiam seguir fases, como foi comentado anteriormente.

Schettini: Se a economia precisa andar e o vírus ignora isso, qual é o caminho?

Moratelli: Teremos que aceitar a presença do vírus, do contágio e da doença, adotando as fases para o retorno a vida cotidiana. O limite para isso será a semana da Páscoa, daí para frente estamos rumo ao colapso. Primeiro privado e depois público. A economia é fundamental para prover saúde. E a saúde fundamental para girar a economia.


Schettini: Ficar em casa ou ir para a rua?

Moratelli: Seguir as orientações e determinações das autoridades para a sua região.


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